Alvenaria estrutural - Carlos Alberto Tauil

Excelente entrevista, vale a pena conferir!

Alvenaria estrutural - Entrevista

Entrevista: Carlos Alberto Tauil
Arquiteto formado pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo) em 1967, é sócio-diretor da Métrica, empresa que presta consultoria para, entre outras, a Bloco Brasil (Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto). Foi diretor técnico comercial da Glasser até 2009, e antes ocupou o mesmo cargo na Reago (Grupo Camargo Corrêa) até 1992. Tauil foi coordenador do Manual Técnico de Alvenaria (ABCI, 1990) e coautor do livro Alvenaria Armada (1981), junto com o engenheiro Cid Racca. A reedição e atualização dessa publicação produziram o livro Alvenaria Estrutural, lançado este mês pela Editora PINI.

Associada à construção para a baixa renda, a alvenaria estrutural vem expandindo sua atuação. Além de já ser encontrada em edifícios de médio e alto padrão, também está sendo utilizada em empreendimentos altos e diversificados. Para Tauil, a alvenaria estrutural apresenta vantagens tanto para o arquiteto e para o projetista, devido à simplicidade da metodologia de projeto, como também para o construtor, pois a obra é rápida e muitas vezes mais barata, segundo ele, do que uma estrutura reticulada.

Com a crescente utilização de alvenaria estrutural, a produção de blocos de concreto enfrenta alguns desafios, como a alta demanda por máquinas de produção de blocos e a necessidade de laboratórios preparados para ensaiar os blocos com alta resistência. Por outro lado, já houve alguns avanços na área técnica, como uma revisão da norma de ensaio (em consulta pública), além da atualização das normas de projeto e execução.

Para ele, um dado positivo é que todo fabricante de blocos que abre sua indústria procura se informar e se enquadrar nas normas brasileiras. Seguindo as normas e obedecendo aos prumos e níveis, uma construção com alvenaria estrutural apresenta boa rigidez, durabilidade, além de suportar bem incêndios e até terremotos, defende Tauil.

A alvenaria estrutural é vista como sistema construtivo de baixa renda ou classe média baixa. Os layouts em geral são muito limitados e, arquitetonicamente, os edifícios não são vistosos. O senhor concorda com isso?
A alvenaria estrutural tem sido muito utilizada há anos em casas e edifícios residenciais quando o empreendedor busca um valor de venda compatível com a renda da grande maioria das famílias brasileiras, que é média baixa e baixa. Nos últimos anos, edifícios para a população de alta renda também têm sido construídos em alvenaria estrutural. Um exemplo é o edifício The Gift, muito bem resolvido arquitetonicamente pelo escritório Aflalo e Gasperini, com cinco torres de 20 pavimentos, na Granja Julieta [bairro da zona Sul de São Paulo].

E o layout, é limitado?
A alvenaria estrutural possibilita um layout com várias formas em planta. Desde formatos circulares com paredes radiais, como edifícios em Y, em cruz, quadrados, retangulares etc. Qualquer formato, em termos de planta, pode ser projetado. Para a organização das paredes, é importante que o arquiteto visualize bem como organizar aquelas que suportam as cargas verticais dos andares superiores, as chamadas paredes portantes.

A produtividade da alvenaria estrutural de certa forma fica comprometida se não forem utilizados elementos pré-moldados como lajes, escadas e sacadas?
Os pré-moldados conferem maior velocidade. No entanto, para maior produtividade, torna-se fundamental a logística no canteiro. Abastecimento dos materiais (bloco e argamassa) para o pedreiro em ritmo constante permite maior produtividade, assim como elementos pré-fabricados com concreto já curado aceleram o cronograma da obra.

A rigidez das estruturas de alvenaria estrutural é maior do que das estruturas moldadas "in loco". Isso não é um fator negativo, pois facilitaria o surgimento de patologias em paredes, como trincas e fissuras?
Em um sistema reticulado, há mais riscos de surgirem trincas e fissuras no encontro das paredes de alvenaria com os pilares e vigas. Na alvenaria estrutural, a parede é constituída de um só componente (o bloco), com material homogêneo. Os cuidados para evitar trincas e fissuras estão na experiência de quem projeta e de quem executa, estabelecendo as juntas de controle, quando necessárias, em paredes longas.

Também deve-se adotar uma solução correta para o encontro da laje de cobertura com as paredes, pois a laje maciça de concreto armado, na cobertura, quando aquecida pela incidência do sol, tende a expandir e levar a parede, se estiver amarrada a ela. Ali, deve-se lançar mão de detalhes típicos para fazer com que a laje possa deslizar sobre a parede sem comprometer sua integridade. Outra solução é adotar panos menores de laje, onde as tensões são menores e se dissipam no próprio painel, sem ocasionar fissuras na ligação parede-laje.

Na estrutura reticulada não existe esse problema?
No sistema reticulado há o mesmo fenômeno no encontro da laje com a viga, mas, como a viga é mais robusta do que a cinta de blocos canaletas da última fiada na alvenaria estrutural, ela resiste mais ao esforço de torção, não causando fissura na alvenaria de vedação abaixo dela.

O ciclo de manutenção de edifício de alvenaria estrutural requer uma abordagem diferente da estrutura moldada "in loco"?
A manutenção de um edifício em alvenaria estrutural é muito simples, ele tem uma durabilidade muito grande. Há alguns edifícios com mais de 30, 40 anos, que foram construídos com bloco aparente e pintura externa em látex acrílico. As paredes de fachada começaram a apresentar infiltração de água de chuva pelas juntas, mas sem causar dano estrutural, e então receberam uma camada de revestimento, ou uma pintura mais adequada. Exemplo muito conhecido é o Central Park Lapa [condomínio na zona Oeste de São Paulo], com fachadas em bloco aparente pintado, que depois de 30 anos recebeu revestimento porque as pinturas no bloco não conseguiram mais resolver a infiltração.

Então só uma pintura não é suficiente?
Existe uma pintura para ser aplicada direto no bloco, com maior espessura e elasticidade para suportar chuvas sem permitir a infiltração por pequenos vazios nas juntas. Ela é usada especialmente em galpões comerciais e industriais. Em edifícios habitacionais, o empreendedor prefere não correr riscos, porque pode gerar problemas com morador. Prefere revestir e pintar todas as fachadas. Voltando à questão da manutenção, outro aspecto é que, se o morador quiser fazer alguma reforma, ele obrigatoriamente tem que consultar o construtor para abrir algum vão numa parede portante ou de contraventamento.

A qualidade dos blocos é fundamental para uma boa construção em alvenaria estrutural. O que se deve fazer para garantir a resistência dos blocos?
Houve um avanço muito grande nos últimos anos. Dezenas de indústrias pelo Brasil afora têm aderido ao programa de selo de qualidade criado pela ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland). Os produtos fabricados por essas empresas atendem integralmente às normas brasileiras. Felizmente, hoje, as normas estão bem conhecidas e todo fabricante de bloco que inicia sua indústria procura se informar sobre as normas para blocos de vedação e estrutural. Além disso, existe a certificação Modelo 5 do Inmetro [ensaio de tipo, avaliação e aprovação do sistema da qualidade do fabricante, acompanhamento por auditorias no fabricante e ensaio em amostras retiradas no comércio e no fabricante].

Uma empresa que tenha ISO para processo de produção pode obter a certificação Modelo 5. São requisitos maiores que atestam também o sistema de qualidade, já que o selo se detém mais na conformidade dos blocos perante as normas brasileiras. Assim, a empresa fornece o produto certificado e garante que o construtor não tenha que fazer novos ensaios em laboratório.

Quais ensaios são realizados?
O corpo de prova da alvenaria estrutural é o prisma, que é um bloco sobre o outro. É o elemento cuja resistência é especificada pelo calculista, e nele se ensaia a resistência à compressão simples. Nos blocos, além da resistência à compressão simples, há ensaios de absorção, retração por secagem e teste dimensional.

Este é muito importante, porque os blocos com selo de qualidade são produzidos dentro das tolerâncias de norma. Assim, quando o arquiteto projeta utilizando o bloco de concreto, ele consegue utilizar o princípio básico da coordenação modular. O bloco de concreto é um dos poucos produtos no mercado que atende integralmente à norma de coordenação modular, ou seja, dimensões múltiplas de 10 cm.

A interface da alvenaria estrutural com os sistemas prediais, em geral, é pouco flexível. Por exemplo, a localização dos poços de elevadores não permite muita margem de mudanças. O senhor concorda com isso?
A posição de caixa de elevador, escada etc. é tratada como parte do projeto, o arquiteto vai posicionar como achar melhor. Normalmente, a caixa de escada e elevador é no centro, mas nada impede que se coloque nas laterais.

A cultura construtiva da construtora é decisiva para que a empresa tenha uma boa desenvoltura com o sistema estrutural? O que muda na maneira de trabalhar com alvenaria estrutural em relação a empreiteiros, cronograma de obras, maquinário etc.?
O cronograma de obras de um sistema reticulado é diferente do sistema de alvenaria estrutural. Nesta, levantam-se as paredes e colocam-se as lajes. Nos vazios dos blocos são deixados os conduítes de eletricidade e deixa-se o compartimento pronto para receber as esquadrias, batentes e revestimento.
No caso do sistema reticulado, primeiramente se levanta a estrutura para depois executar as alvenarias, embutindo as instalações. Essa é uma diferença básica, que influi muito no cronograma físico-financeiro. No sistema convencional, é preciso montar quatro equipes: de fôrmas, de armação, de concreto e de alvenaria. No caso de alvenaria estrutural, só há uma equipe de pedreiros. Dependendo do tipo de laje utilizada, o próprio pedreiro pode montar os painéis de laje e não são necessários carpinteiros.

Então a obra leva menos tempo?
O tempo é muito relativo em construção. Há um limite de velocidade para levantar as paredes e colocar a laje por cima. Se houver muitos pedreiros numa laje, um atropela o outro. É preciso dimensionar de acordo. Normalmente, em construção de pavimentos-tipo de 400 m² ou 500 m², uma equipe de quatro ou cinco pedreiros consegue fazer uma laje por semana. Na estrutura de concreto, a laje é feita no mesmo tempo, mas sem a alvenaria. Portanto, em princípio, com o sistema de alvenaria estrutural consegue-se mais rapidez que com estrutura reticulada, principalmente se for um edifício alto.

E quanto ao maquinário e equipamentos? É necessário?
A alvenaria estrutural é um sistema muito democrático. Ela serve tanto para um pequeno construtor, que só tem as ferramentas de assentar bloco e um pequeno guincho, como para uma empresa mais organizada, que pode utilizar gruas e guindastes para colocar elementos pré-moldados, caçambas de argamassa e paletes de blocos no andar. Essa logística pode acelerar muito a execução da obra. Outros tipos de equipamentos já são oferecidos pelo mercado, como andaimes específicos, ferramentas, baldes especiais para despejar concreto graute nos vazios dos blocos quando necessário, sistema de proteção do andar etc.

No passado, errou-se bastante na aplicação da alvenaria estrutural. Quais os erros que hoje seguramente foram superados?
As paredes de alvenaria estrutural vinham sendo levantadas preferencialmente com os blocos de concreto dispostos com juntas amarradas. Com junta a prumo, os blocos precisam ser travados com mais fiadas de blocos canaleta, porque as tensões não se distribuem como no padrão junta amarrada e a argamassa vertical pode apresentar fissura. Outro ponto é a ligação de paredes, que pode ser com blocos amarrados ou com ganchos imersos no concreto graute dos vazios dos blocos de canto. Não se pode esquecer de colocar os ganchos. Para amarração de paredes já foi desenvolvido um bloco com espessura de 14 cm e 34 cm de comprimento. Hoje, o mercado já está acostumado a esses blocos especiais para amarração, a encontro de parede em 'T' com blocos de 54 cm etc.

Os erros hoje então são mais de execução, como esse da falta do gancho?
É preciso tomar cuidado, principalmente com obras muito rápidas. As paredes têm que descarregar as cargas adequadamente no prumo, para não gerar excentricidade, o que pode levar à ruptura da parede.

Nós sabemos da existência de edifícios altos, com mais de 30 pavimentos em alvenaria estrutural. Há alguma limitação recomendável para o sistema?
Pessoalmente, eu recomendo a construção de edifícios de até 25 pavimentos. Porque, acima disso, são necessários blocos com resistência acima de 25 MPa. Eles são mais caros, sua produção é mais demorada, pois é necessário mais tempo de compactação e vibração, e isso torna os primeiros pavimentos muito caros.

Sabemos que um edifício de quatro pavimentos obtém uma economia de 30% em relação ao sistema convencional. Conforme se aumenta o número de andares, essa economia diminui. Com 20 andares, ela é de 10%. O prédio mais alto que eu conheço é o Hotel Excalibur, em Las Vegas (EUA), construído em 1990, com 30 andares.

A alvenaria estrutural é adequada a algum tipo específico de tipologia construtiva?
É para qualquer tipo de edifício, não só residencial, mas creches, escolas, galpões industriais, igrejas, muros de arrimo, piscinas. A alvenaria estrutural deve sempre ser utilizada quando os esforços são mais de compressão. No caso de piscinas e muros de arrimos, também há esforços de flexão. A solução nesses casos é possível, pela facilidade de se executar essas obras, mas requer bastante armação grauteada nos vazios dos blocos para resistir a esses esforços.

A grande vantagem da alvenaria estrutural, especialmente com blocos de concreto, é que se trata de um sistema sustentável, pois quase não há resíduos na obra. Mesmo que alguns blocos quebrem, o que é menos de 2%, eles podem ser utilizados para compactação no piso do térreo, para fazer um lastro de concreto. Nunca nada é perdido.

Os arquitetos parecem não gostar de trabalhar com alvenaria estrutural. Por que isso acontece?
Falta muito conhecimento dos arquitetos. As escolas não enfatizam tanto o ensino da alvenaria estrutural quanto o concreto armado. Isso vem melhorando, diversas faculdades já abordam o tema. Quando o arquiteto entende a alvenaria estrutural, ele tem facilidade de projetar, porque é um sistema muito simples, racional e prático. O cálculo é quase somente uma verificação do que ele projeta.

O calculista verifica se aquilo é estável. Logicamente há todas as etapas, uma discussão de quais serão as paredes portantes, os tamanhos dos vãos, tamanho das lajes. Definido isso, o projetista faz análise de cargas, estudo do vento etc. e diz quais blocos vão receber armação, qual a armação e a resistência dos prismas de cada andar, além das elevações das paredes e os elementos de concreto armado: lajes, escadas, vigas e blocos de fundação.

A metodologia de projeto, então, é diferente?
A metodologia é de muito fácil compreensão, porque o arquiteto pode partir para decisões conforme conversa com o empreendedor e os projetistas de estrutura. Por exemplo, ele organiza as paredes portantes, define com o projetista estrutural os vãos, define com o construtor o tipo de laje, evolui para uma pré-modulação e, com esse esquema já modulado, pode-se partir para o processo legal de aprovação junto à Prefeitura, no qual as medidas já vão certas, exatamente como vai ser executado o edifício. A partir daí, ele parte para um detalhamento, como as interfaces, ligações, projeto hidráulico e elétrico. É um processo que permite uma metodologia muito objetiva.

Trabalhar com alvenaria estrutural requer uma racionalização maior da obra e mais mecanização? Isso acaba afetando os custos?
O custo da alvenaria é sempre menor para edifícios de até 25 andares. Quanto à parte de mecanização, depende muito do tamanho do empreendimento, se vai se usar mais gruas, guindastes, ou se só utiliza guinchos. O sistema é muito democrático, pode ter maior ou menor mecanização.

A alvenaria estrutural está sendo bem aceita no Programa Minha Casa, Minha Vida?
A aceitação é completa. O que está havendo é uma preocupação de que o setor industrial de produção de blocos não atenda à demanda, principalmente em regiões que não têm tradição de produção de blocos, como o Norte, Nordeste e o Centro-Oeste. Mas há um grande desenvolvimento de indústrias, tanto que a indústria de máquinas que produzem blocos está com muitas encomendas para o Brasil inteiro e exterior.

Estamos exportando máquinas para Angola, e também há máquinas vindo de fora para o Brasil. Outros sistemas são perfeitamente possíveis para o Minha Casa, Minha Vida, mas a vantagem da alvenaria estrutural é que já é tradição da mão de obra brasileira trabalhar com alvenaria, e o treinamento é muito fácil.

Como o projetista deve utilizar o seu livro? O que ele vai encontrar nessa obra?
Nós modernizamos a edição lançada 30 anos atrás, com as novas normas e novas metodologias de projeto. O livro trata do projeto de arquitetura e do detalhamento, apresenta os macetes de mão de obra, o passo-a-passo de assentamento dos blocos, os requisitos do produtor de blocos exigidos pelas normas brasileiras etc.

Já o cálculo estrutural, ou projeto estrutural, está em uma outra publicação dos engenheiros Márcio Corrêa e Márcio Ramalho [Projeto de Edifícios de Alvenaria Estrutural, Editora PINI]. Os dois livros juntos passam grande parte da experiência e conhecimento do estado da arte da alvenaria estrutural hoje, tanto em termos de projeto de arquitetura como projeto estrutural e construção.

O projetista de edifícios de alvenaria estrutural deve possuir conhecimentos diferenciados? O que é mais crítico no projeto?
O projeto estrutural depende muito do conhecimento do projetista, ele tem que conhecer o funcionamento de uma estrutura laminar de paredes, que é diferente de um sistema reticulado. O projetista de estrutura verifica se as paredes estão resistindo somente a esforços de compressão.

Se estiver, vai adotar apenas armação construtiva nas vergas, em cantos de paredes, em contravergas e, logicamente, também nas cintas de amarração. Mas, se existe alguma parede que tenha que resistir a esforço de tração, como num prédio alto, onde o vento provoca esforços horizontais, as paredes sujeitas então à tração e compressão têm que ser armadas adequadamente.

Como é a resistência da alvenaria em relação a incêndios e terremotos?
Na construção civil, o bloco de concreto resiste a duas horas de incêndio, que é mais que suficiente para fuga do prédio. Não há nenhum caso no Brasil, com alvenaria estrutural, em que um incêndio tenha provocado colapso de estrutura. Em obras de alvenaria, o fogo não chega a se alastrar para outros cômodos e é extinto na própria dependência onde iniciou. Há casos de explosão de bujão de gás em apartamentos, em que as janelas voaram para fora, e as paredes se mantiveram.

Às vezes, mesmo com colapso de um pedaço de parede, no caso de uma explosão, o edifício como um todo ainda tem uma resistência muito grande, maior que um sistema de pilares e vigas. Um dado interessante é que muitos centros de distribuição, que necessitam de paredes corta-fogo para separar diferentes áreas de estoque, vêm executando essas paredes com blocos de concreto preenchidos com areia em seus vazios. Nesse caso, a resistência ao fogo chega a quatro horas.

E terremotos?
O sistema de alvenaria estrutural armada foi desenvolvido na Califórnia, onde frequentemente ocorrem muitos terremotos, porque resiste melhor que as estruturas reticuladas. Quando o chão se move no sentido horizontal, os pilares da estrutura se rompem e o edifício tomba. Na alvenaria estrutural, como há muitas paredes descendo até o chão, mesmo que uma delas caia ou rache, há uma superfície maior em contato com o solo.

No geral, a alvenaria estrutural proporciona uma construção mais resistente?
O Brasil, especificamente o Estado de São Paulo, se destaca no mundo pela construção de milhares de prédios de alvenaria estrutural. Há raríssimos casos de ruptura de prédio ou danos em estrutura. Tivemos casos no Nordeste, mas foram com blocos cerâmicos sem revestimento, em contato com a água do lençol freático na fundação que, deteriorados com o tempo, levaram ao colapso alguns prédios de quatro pavimentos. Tratando-se da mão de obra do pedreiro, logicamente há paredes mais bem-feitas e paredes piores. Sempre se deve obedecer aos prumos e níveis, e sem fugir às tolerâncias de normas. Isso é fundamental para a integridade dos edifícios.

Você sente que o uso da alvenaria estrutural vem crescendo?
Está crescendo muito. Nos últimos anos, além de habitações populares de baixo preço, a alvenaria estrutural tem sido utilizada em edifícios de melhor padrão, de apartamentos com 150 m² a 200 m². Há inúmeros exemplos de vãos grandes, que permitem modificação dos ambientes com blocos de menor espessura ou paredes de gesso nas paredes internas.

Por que só agora o uso está aumentando?
É a busca de menor custo de construção. Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, o preço do terreno subiu muito. O preço final dos apartamentos começou a ficar caro, e onde se pode reduzir o custo é na construção. Há 40 anos o sistema de alvenaria estrutural vem se mostrando uma solução econômica, e cada vez mais os profissionais se interessam por esse sistema. Fora isso, na academia vêm se desenvolvendo muitos trabalhos sobre o uso dos blocos de concreto, apresentados em congressos.

As normas brasileiras de projeto e execução, da década de 80, estão sendo revistas. Muitos laboratórios que fazem ensaios de blocos estão se preparando agora para ensaiar blocos de alta resistência. Hoje, o mercado pede ensaios de blocos de 20, 22 MPa para os edifícios altos. Até a própria norma de ensaios foi alterada recentemente exigindo que as placas de apoio dos blocos nas máquinas de ensaio fossem aumentadas de 5 cm para até 10 cm.

Você falou em 25 pavimentos por uma questão de custo?
Por custo e pela dificuldade de fazer blocos com maior resistência. Talvez precisemos de um cimento e agregados especiais. Os blocos de concreto tradicionais atingem no máximo resistências à compressão de 20, 25 MPa. Pode até ser possível fazer blocos com maior resistência, mas o mercado ainda não exige isso.

No caso de edifícios altos, além dos blocos especiais, seria necessário armar muito mais as paredes para resistir ao esforço horizontal de ventos. Dizemos que acima de 12 pavimentos e até 25 recomenda-se a solução estrutural em alvenaria estrutural armada; de 25 a 60, concreto armado; e de 50 ou 60 para cima, estrutura metálica.